Wednesday, November 15, 2006

interview Marcelo da CMM / 2005

1. Como e quando se deu a formação da ocupação Chiquinha Gonzaga? O que aproximou as pessoas hoje reunidas no coletivo?

A ocupação ocorreu após cinco meses de reuniões semanais, aonde foram discutidos a organização e o caráter da ocupação. Somente a comissão de seleção dos prédios é que sabia qual o prédio exato. Na véspera da ocupação marcamos um ponto de encontro e nos dividimos em três grupos. Os ocupantes foram informados do local exato no dia e na hora da ocupação . Durante todo o processo não se arrecadou nenhum contribuição financeira dos ocupantes e todos foram espontaneamente para o local marcado.Apesar de comemorarmos a ocupação no dia 23/07 na verdae ela ocorreu as 00:40 do dia 24.O que aproximou as pessoas foi o sonho de ter um local para morar, livrando-se do aluguel, da ameaça de despejo ou mesmo da rua. A partir deste sonho é que estimulamos o debate sobre a questão da moradia, perguntamos se apenas ter um lugar para morar transformaria efetivamente a vida das pessoas.

2. Qual a composição do coletivo (número de pessoas, idade das pessoas, profissões exercidas, casados/as, solteiros/as, número de mulheres, número de crianças etc.)? Vocês têm vontade de agregar mais pessoas? Por quê?

Hoje os 68 apartamentos disponibilizados para moradia estão ocupados ( acredito que dois ainda estão por ocupar). No geral são cerca de 200 pessoas mais ou menos, sem incluir os apoios. Atualmente existe um grande número de crianças e adolescentes (30%) a mioria entre 25 e 50 anos e poucos com mais de 50.A grande maioria dos ocupantes sobrevivem no mercado informal. ou dooriginalmente são pedreiros, artesãos, empregadas doméstica, garçons, catadores de lixo, até professores e artistas. A maioria das famílias não são constituidas por pai, mãe e filhos, grande parte são mães solteiras ou separadas. Os solteiros ocupam 20% dos apartamentos. Atualmente a ocupação só abre vagas se alguém deixar ou for afastado da ocupação e como já foi decidido novos ocupantes só se for família. Contudo estamos num processo permanente e organização para novas ocupações.

3. Como se organiza o coletivo? Como se dá a participação de todos e todas? Como são tomadas as decisões?

O coletivo se organiza por comissões de trabalho onde todos tem carga de trabalho semanal para ser cumprida. São quatro assembléia semanais, segundas-feira discutimos produção, quarta: discussão política , sexta:avaliação e sábado assembléia deliberativa onde todos tem o mesmo direito de participação. AS decisões são tomadas por consenso ou votação nas assembléias.

4. Como a ocupação se sustenta? Quais as maiores dificuldades encontradas? Vocês podem falar também da situação que os moradores que são camelôs enfrentam com a prefeitura de César Maia?

Através do apoio de alguns sindicatos e entidades que se solidarizaram com a nossa luta, o coletivo anarcopunk freqüentemente organiza eventos que arrecadam alimentos e dinheiro. Logo no inicio houve uma sessão de pré-estréia do filme Olga que garantiu alimentos por quase um mês, diversas atividades foram realizadas em beneficio da ocupação. A ocupação Chiquinha gonzagaa não quer viver de doações, por isso todas as segundas-feira realiza reuniões para organizar a produção. Já estamos produzindo e vendendo camisetas com a marca da ocupação, discutimos projetos de reciclagem do lixo coisas deste tipo. Além disso foi aprovada em assembléia uma pequena colaboração mensal dos ocupantes. Estamos também elaborando projetos que possibilitem a auto-sustentação da ocupaçõa. Quanto aos camelôs a situação está terrível. A guarda municipal idealizada e criada no primeiro governo CM, tendo como comandante um ex-colaborador do regime militar tendo entre seus quadros vários torturadores submetem os trabalhadores informais a freqüentes sessões de torturas (físicas e mentais) e espancamentos. Ontem quando estava saindo da ocupação para concluir este questionário e te enviar, tive que ir até a delegacia porque mais um camelo havia sido brutalmente espancado pelos guardas, ele estava preparando a festa de aniverário da advogada d o movimento acompanhado de seu filho de 8 anos , quando foi abordado por mais de seis elementos da gm e espancado sem nenhum motivo,. Na delegacia me contaram que se encontra internado no hospital penitenciário dês o dia 31/12 o ambulante de nome Rodrigo brutalmente torturado e espancado, provavelmente ficará com seqüelas. São diversos casos deste tipo que ocorre quase que diariamente em nossas ruas. Falo com os companheiros que está na hora de uma ação mais radicalizadas. Principalmente contra o prefeito e os empresários que financiam esta situação.

5. Quais são as tarefas dentro da ocupação? Vocês podem falar da cozinha comunitária, da portaria, da hidráulica, elétrica, faxina etc? Todos cumprem tarefas na ocupação? Como são distribuídas essas tarefas? Quais as maiores dificuldades que vocês enfrentam no seu processo autogestionário?

Atualmente a principal tarefa é a portaria, não pode haver furo principalmente a noite e durante a madrugada. A cada duas horas dois companheiros se revezam nesta tarefa. As comissões de hidráulica e elétrica atualmente se formam esporadicamente pois o que poderia ser feito sem um grande financiamento já foi realizado e a situação é bastante razoável. O ideal seria substituir toda rede elétrica e hidráulica do prédio. os moradorees de cada andar são rresponsáveis pela limpeza do mesmo, tirando uma comissão para as áreas de uso comum. A cozinha depois que os moradores se mudaram definitivamente acabou (sempre acontece infelizmente) mais reforçamos a necessidade mantê-la e alguns moradores a retomaram . A principio todos deveriam cumprir as tarefas porém isto as vezes não acontece. Todo o processo de construção da ocupação CG é feito através do convencimento. Em geral nada é forçada ou imposto, é claro que aquele que não cumpre com suas tarefas ou fere o regulamento é submetido a avaliação coletiva podendo ser até afastado, algo que raramente acontece (em sete meses apenas 4 foram afastados, provavelmente um recorde) a conscientização da luta e da necessidade de destruir o modelo em que vivemos, para construir a sociedade que sonhamos não pode ser imposto e necessariamente não irá acontecer da forma que pensamos, cada um tem seu tempo. As tarefas são distribuídas de acorda com a possibilidade de cada um. A principio todos podem se oferecer para qualquer tarefa que se julgue capaz.As dificuldades são as mesmas que nos fazem ter certeza da necessidade de destruição(repito) da sociedade que vivemos. Não existee possiblibilidade para o mundo da forma que está. O individualismo, a ganância , a sedução do capital e o que ele pode adquirir, o culto a aparência , o consumismo também estão presentes na ocupação, não podemos romantizar, erramos profundamente quando temos compaixão.

6. Existe um espaço para as crianças da ocupação? Qual a história desse espaço? Em que condições se encontra e por quê?

As crianças foram os primeiros a se organizar internamente, logo arrumaram uma sala , pintaram colocaram um quadro e fonde faziam as auas reuniões, deram a este espaço o nome de DDC (sala direitos das crianças) foram um exemplo para os adultos. infelizmente Atualmente se encontra fechado , foi feito um despejo próximo ao prédio e os pertences dos despejados foram guardados no quarto das crianças. Vamos fazer uma campanha para reabrir o espaço.

7. O pessoal do apoio e os moradores podem falar das aulas de alfabetização, história e capoeira?

Não tive tempo para contatar o pessoal.

8. O que e como são as oficinas/discussões de formação política do movimento?

É uma maneira de fazer com que os moradores percebam que a situação que eles e muitos outros vivem não acontece por acaso faz parte de um processo mais amplo de exploração e concentração de riqueza. Como todas a o processo da Chiquinha na é obrigatório ou forçado, apenas estimulamos a participação. Passamos vídeos, trazemos convidados, lemos textos, enfim provocamos a discussão.

9. Existe alguma espécie de comissão de comunicação ou assessoria de imprensa no movimento? Vocês são envolvidos em algum projeto de rádio ou TV livre/comunitária? Há oficinas de produção de mídia?

Temos bastante espaço na mídia alternativa como CMI que sempre nos apoiou e atualmente estamos pensando num informativo da oc. Que serás aberto para outras ocupações. Há também a idéia de se fazer uma rádio que aprincipio seria apenas para comunicação interna.

10. De quais outros movimentos sociais vocês são próximos?

A central de movimentos populares-rj e frente de luta popular sã os movimentos que apóiam a ocupação desde o inicio. Outros movimentos apóiam a ocupação.

11. Vocês podem falar da ocupação 17 de maio, de Nova Iguaçú? Da Vila da Conquista?

A ocupação 17 de maio de pois

12. Há projetos de novas ocupações em andamento (caso possam revelar esse tipo de informação)?

Enquanto existri o problema de moradia em nosso país sempre haveram pessoas organizando novas ocupações.

13. Como vocês viram a desocupação do terreno Sonho Real, em Goiânia, ocupado há quase um ano?

Como um reforço para nossa luta.

14. Qual a situação atual da ocupação, em termos legais?

- aliás aqui te recomendo um texto muito "legal" que o manolo, do cmi salvador, publicou: Legalmente a situaçao não se alterou em nada desde o inicio o processo continua inalterado. Porém , conseguimos negociar junto ao mcidades e ao incra nacional um convênio (temos a cópia) que deve ser assinado em breve disponibilizando os imóveis do INCRA para o minist´erio, o que a principio é uma solução para o nosso problema.

15. Como vocês vêem o governo Lula? Podem comentar o que significa para vocês estar em um prédio do Incra?

Dentro do sistema representativo que domina o mundo, qualquer governo sempre será um governo para as elites jamais para o povo. Particularmente na questão urbana, não houve efetivamente avanço nenhum. Mais de dois anos de governo e ate hoje os movimento de moradia não foram recebidos pelo presidente. Ocupar um prédio do INCRA chega ser irônico, ocupamos um Prédio Urbano do rogão que tem como objeitvo fazer a reforma agrária.

16. A ocupação tem qualquer vínculo partidário?

Não. O nosso regulamento proíbe o vínculo partidário da ocupação, respeitando a opção político-partidária da cada um. Convivem na ocupação, anarquistas, marxistas , punks, pt, psol, pstu tranqüilamente desde que não queiram tirar proveito ou impor as suas ideologias ao coletivo.

17. Vocês são envolvidos na luta anti-Alca? Como e por quê?

Sim. A ocupação vem participando da luta contra a Alca desde o começo, participando de seminários, encontros e atos de rua. A ALCA continua sendo (ainda mais) uma ameaça aos povos da AL.

fotos / novembre 2006













façade sur rue / visto da rua












façade arrière / visto de tras






pièce commune du 1er étage / sala comum no primeiro piso